sábado, 21 de abril de 2012

Impactos dos sistemas agrícolas dos Cerrados sobre os estoques de carbono do solo e emissões de óxido nitroso


Bruno Alves,pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Seropédica, RJ

Os extremos climáticos têm se tornado cada vez mais frequentes, mostrando a importância dos estudos relacionados ás mudanças climáticas, principalmente, os gases de efeito estufa (GEEs), já que suas concentrações atmosféricas estão aumentando cada vez mais. Assim, é fundamental desenvolver ações e (ou) práticas para diminuir as emissões desses gases para a atmosfera.

O Cerrado contribui com 30% a 40% da produção nacional das culturas anuais, resultando em impactos significativos na mudança de uso do solo e acarretando parda de vegetação, mudança de estoques de carbono e aumento do nitrogênio disponível no solo. Os principais impactos do uso do solo com lavouras com emissões de gases de efeito estufa estão relacionados à mudança nos estoques de C, aplicação de fertilizantes e produção de resíduos vegetais.

A matéria orgânica (carbono) do solo é o resultado líquido da deposição de resíduos e de sua decomposição, sendo fundamental considerar a produção, em quantidades e qualidade, de resíduos vegetais e sua decomposição nos estudos da dinâmica de gases de efeito estufa. Porém, a conservação e aumento da matéria orgânica do solo dependem não somente da quantidade de resíduos deixadas no solo, mas também do manejo de N de forma a garantir a reposição do que é exportado do sistema por meio da colheita e perdas.

No Bioma do Cerrado, estima-se que os estoques de C presentes na parte aérea da vegetação são de ordem de 20 a 40 Mg C ha-1 e de 97 a 210 Mg C ha-1 no solo(camada de 0 cm a 100 cm).Comparações de acúmulo de C em profundidade em plantio direto em 14 casos estudados pelos pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Paraná mostraram que a avaliação do estoque de C apenas na camada de 30 cm subestima, em média, 37% do acúmulo em relação à amostragem  até 100 com de profundidade.

O acúmulo ou sequestro de C no solo é finito, sendo a quantidade potencial a ser sequestrado dependente do manejo, histórico, textura, clima, produção, entre outros fatores. O estoque de C se estabiliza com o tempo, mas as emissões de óxido nitroso (N²O) se mantêm.

Além da fonte de N, fertilizantes, excretas e resíduos, os principais  fatores responsáveis pela formação de óxidos de N no solo são:

  •  Temperatura do solo.
  • Aeração do sono.
  •  Disponibilidade de N.
  •  Matéria orgânica.

Os óxidos de nitrogênio são produtos das reações nitrificações e desnitrificações. A nitrificação produz relativamente mais NO do que N2O, e a desnitrificação é o processo dominante na produção de N2O. A nitrificação é favorecida pela presença de NH4+, por condições adequadas de aeração do sono e pela maior ciclagem de nitrogênio no sistema. O pH do solo também é variável importante, pois as taxas de nitrificação aumentam com a diminuição de acidez do sono. Bactérias nitrificadas como Nitrosomonas e Nitrosospira são  principais gêneros que oxidam NH4+ a NO2-, e Nitrobacter  o principal gênero responsável pela segunda etapa do processo  que tem como Produto o NO3. Esses organismos são favorecidos de condições de pH superiores a 5, o que é comum nas áreas agrícolas, normalmente sob aplicações de calcários. Solos bem drenados favorecem a nitrificação por ser um processo aeróbico, porém a umidade e temperatura são fatores importantes para otimizar o processo.

O IPCC estima que 1 % (0,3% a 3%) do N proveniente de fertilizantes e resíduos é emitido N2O de forma direta e que 0,325% é emitido de forma indireta. O restante das perdas de nitrogênio ocorrem por volatilização de NH3, NOx e lixiviação de NO3 .

Estudos realizados em solos agrícolas do Brasil têm obtido fatores de emissão direta de ordem de 0,30% (0,20 % a 0,47%).

Portanto, o fator de emissão do IPCC superestima as emissões de N2O no Brasil, ressaltando a importância de se realizar medidas diretas de emissões de GEEs nos agroecossistemas brasileiros.

As menores emissões de N2O em Latossolos estão relacionados à alta drenagem e às condições de evapotranspiração nas regiões tropicais. Após quase um dia de sob inundação o potencial redox reduz-se a ponto de o NO3- ser consumido de forma mais significativa.

Análises de emissões de N2O, em Latossolo Vermelho argiloso na área experimental da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), após aplicações de diferentes fertilizantes nitrogenados na cultura do milho (com irrigação) em sistema de plantio direto, mostrando que o sulfato de amônio resultou em emissões de baixas de N2O em relação à ureia e nitrato de potássio. O nitrato de potássio foi fertilizante nitrogenado que contribui para as emissões, mas elevadas desse gás de efeito estufa.

O impacto da bovinocultura na produção de gazes de efeito estufa também é altamente significativo no Bioma Cerrado, principalmente devido ao problema sério de degradação da pastagem e ineficiência no uso da terra. Estima-se que ocorrem perdas de até 1.500 kg COha-1 ano-1 decorrentes da degradação de pastagens.

Estudo de logo prazo realizado na Embrapa Cerrados  mostra acúmulo de C no solo em oito sistemas diferentes de cultura/pastagem após 11 anos. Nesse sistema, foram quantificados 10 t a 20 t a mais de C comparativamente á postagem contínua de baixo insumo e ao sistema de lavoura sob plantio convencional.
Já se constatou que 2% do N foram depositados como excretas em pastagens (fezes e urina). Em resumo, para bovinos de corte 1 U.A. há-1 ano-1, resultando em um fator de emissão entérica para os bovinos de 56 kg CHanimal ano -1.

Dessa forma, conclui-se que:

  •  O uso da plantio direto com notação de culturas que mantenha o solo coberto de com resíduos ao longo do ano, assim coo o eficiente uso de N, são alternativas para reduzir as emissões de GEEs nas lavouras.
  • A recuperação das pastagens é chave para sustentar a produção de carne e permitir a expansão de outros sistemas de produção ou a própria recuperação do Cerrado, minimizando ou eliminando o desmatamento.
  •      O uso do solo na região de Cerrados é fundamental para sustentar a demando de alimentos do País, embora o resultado de líquido soja emissões de CO2eq para a atmosfera, demostrando que a expansão da agricultura precisa ser limitada. 


Jácome Costa, Carolina. Memória do Workshop O Cerrado no contexto das mudanças Climáticas globais. Planaltina DF: Embrapa Cerrados, 2010.






4 comentários:

  1. Qual a contribuição das queimadas para o aumento do efeito estufa no bioma cerrado?

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  2. Para contribuir com o efeito estufa basta emissão de gases que aumentem a concentração de radiação solar na atmosfera.As queimadas que estão ocorrendo no cerrado contribuem para o aumento da temperatura terrestre porque emitem carbono e também pela destruição de suas árvores que são captadoras desse carbono, transformando-o em energia para seu desenvolvimento, associado com água e a energia solar, no resultado deste processo há a liberação de oxigênio,ou seja, as canalizadoras de carbono deixam de existir, contribuindo para este permaneça em circulação.A problemática das queimadas não se restringem apenas a problemática do efeito estufa, mas para a manutenção da existência do próprio bioma que comprometem sua fauna também.

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  3. Como a bovinocultura influe na produção de gazes de efeito estufa?

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  4. As grandes influências são degradação da pastagem e ineficiência no uso da terra, onde, estima-se que ocorrem perdas de até 1.500 kg CO2 ha-1 ano-1 decorrentes da degradação de pastagens.

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